A primeira transmissão de rádio feita em Paracatu ocorreu há 90 anos nas dependências do Theatro Philodramático.
Em fins do século XIX, Paracatu, embora longe dos grandes centros urbanos do país, vivia um momento de grande efervescência cultural. As bandas de músicas Euterpe, Fraternidade e Santa Cecília, companhias de teatros, os quatro jornais da cidade e a produção literária agitavam a vida dos paracatuenses.
Um grande marco para a cidade naquela época foi a construção do Theatro Philodramático, um espaço voltado para produções artísticas e culturais do município.
Com início das obras em 1888, o teatro foi inaugurado em 1º de janeiro de 1890, erguido em um terreno atrás da igreja do Rosário. O edifício do Philodramático, que lembrava a fachada da igreja da Matriz, dispunha de dois andares, 28 camarotes, câmara para orquestra e amplo espaço para a plateia.
Durante seus anos de funcionamento, o Philodramático recebeu companhias teatrais brasileiras de destaque na primeira metade do século XX e serviu de palco para apresentações teatrais de artistas nativos, sempre assistidos por grande público rigorosamente vestidos em trajes de gala.
Um dos fatos mais marcantes na história do teatro que não existe mais, foi a primeira transmissão de rádio feita em Paracatu, apenas cinco anos depois da primeira transmissão feita no Brasil.
Em 8 de fevereiro de 1927, há exatos 90 anos, Olympio Gonzaga, empresário, historiador, fotógrafo, jornalista, e locutor naquela oportunidade, saudava o extraordinário acontecimento em nossa cidade.
A mensagem na íntegra do locutor, chamando a todos para acompanhar a transmissão nas dependências do Theatro Philodramático pode ser vista a seguir:
“Estréa do radio em Paracatu no cinema hoje 8 de fevereiro no Theatro Philodramático às 7:30 da noite. Extraordinário acontecimento, vantajoso passo dado na vanguarda dos povos civilizados, impellindo os sertanejos de Paracatu a ouvir e apreciar as maravilhas dos grandes centros do Rio, São Paulo, Argentina, Estados Unidos e Europa! Sob a competente direção do technico Antonio Praça formado na Europa, da General Eletric, a radiola 28 da Casa Gonzaga, o mais potente aparelho de radio vae falar hoje, vencida todas as dificuldades. Vamos ouvir assuntos do carnaval, excellentes musicas, conferencias scientíficas e literárias, concertos nos theatros e nas três sociedades transmissoras do Rio de Janeiro, radio educadora, paulista, radio argentina, etc. as pequeninas sentelhas electricas lançadas no espaço pelos aparelhos irradiadores da América, atravessam o espaço com a velocidade de trezentos mil kilometros por segundo e são captadas nas antenas da radiola 28 da Casa Gonzaga ampliando a voz cerca de 400 vezes mais. Apello para o patriotismo do nosso povo. Todos no theatro hoje”.
Contudo, infelizmente essa rica história cultural e o relevante papel que o Theatro Philodramático teve na trajetória artística da cidade, ficou no passado. Em 1952, no contexto desenvolvimentista brasileiro, principalmente a partir da construção de Brasília na década de 50, o Theatro O Philodramatico de Paracatu foi demolido.
Restam fotos desbotadas, pinturas que podem ser vistas na Casa de Cultura e no Museu Municipal, registro no Arquivo Público e relatos em alguns livros, especialmente do escritor Oliveira Melo. Uma pena, mas pelo menos a história foi registrada!
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