Comunidade Quilombola de São Domingos mantém viva cultura negra

Povoado em Paracatu preserva tradição e costumes de seus antepassados.

Na data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, o Visite Paracatu esteve no Povoado São Domingos, a pouco mais de 3 quilômetros de distância do centro da cidade, para conhecer um dos quilombos mais antigos de Minas Gerais.

Símbolo de resistência e de preservação da cultura negra no município, a Comunidade Quilombola de São Domingos guarda a tradição e a memória viva de seu povo há mais de 200 anos.

Reconhecida como quilombola pela Fundação Cultural Palmares em 2004, a comunidade possui cerca de 300 casas, quase todas pertencentes aos descendentes dos primeiros moradores do quilombo, à época escravos livres que resolveram permanecer na região.

É o caso da pequena casa de adobe, onde dona Magna Aparecida dos Reis Solto e sua família recebem de braços abertos todos que desejam conhecer seus costumes e histórias. “Essa casa tem muita história. Foi aqui onde meu pai e minha mãe criaram os dez filhos. Resolvemos deixar a casa intacta e montamos um minimuseu com objetos e móveis da época para mostrar a nossa história e como os antigos viviam”.

Na casa de quatro cômodos é possível ver moedas e notas antigas, livros, quadros, instrumentos musicais, artesanatos, panelas, jarros de barro, cuité, lamparinas, sementes nativas e também as roupas típicas da Caretada ou Caretagem, que é uma dança de origem africana tradicional na comunidade. “As pessoas que nos visitam, principalmente grupos de estudantes, passam a conhecer aqui muitas coisas que eles nem sabiam que existiam”, exalta dona Magna.

Dia da Consciência Negra
O dia 20 de novembro é um marco na luta pela liberdade e contra o racismo. A data foi escolhida como o dia da Consciência Negra, porque evoca o assassinato de Zumbi, o mais importante líder dos Quilombos de Palmares. Instituído em âmbito nacional em 2011, o dia é considerado feriado em mais de mil cidades brasileiras.

Em Paracatu, cidade historicamente com maioria da população negra, a data passa quase desapercebida. Mesmo assim, para dona Magna, o dia da Consciência Negra é importante para o povo negro de todo o país, principalmente para lembrar os problemas que os negros enfrentam na sociedade atual. “A meu ver as coisas não mudaram muito assim não. A sociedade deve muito aos negros. Não existe escravidão, mas existe muito preconceito. Vejo que tem muita pessoa racista ainda”.

Memória viva e dono de uma lucidez incrível no alto de seus 104 anos, seu Aureliano Lopes dos Reis conta que a vida antigamente era melhor, principalmente pelo sossego e pela fartura de alimentos que os quintais continham.

Ciente das dificuldades da atualidade, seu Aureliano relembra com certo ar saudosista os tempos de mocidade e se diz preocupado com o mundo de hoje. “Naquele tempo a vida era melhor. A vida era mais pacata e as pessoas respeitavam os outros. Hoje é mais difícil, tem muita violência, as pessoas morrem muito cedo. Mas a gente vai levando e torcendo para que um dia as coisas voltem como era antes”.

Poema Consciência Negra

Sou a alma que ontem nasceu no mundo.
Sou filha da África,
Dos olhos de pérolas,
Do sorriso de marfim,
Dos sons dos atabaques em noite de luar,
Da roda de capoeira,
Do jongo ao maculelê.

Sou da raça que irradia perfume de alegria.
Sou semente da história humana,
De vida apesar de tanta dor.
Dos canaviais e senzalas,
Das mãos calejadas, exploradas e injustiçadas.

Podem tirar a minha vida,
Menos o direito de sonhar,
De ter esperança…
De lutar por dignidade e respeito,
Nem que seja em grito mudo,
Clamando por igualdade e justiça,
E de acreditar num amanhã melhor.

* Quem quiser conhecer a Comunidade Quilombola de São Domingos é só agendar com dona Magna ou com sua irmã Isabel pelo telefone (38) 9.9946-0107.
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